Encrenqueiros ou mal compreendidos?
O aquarismo, quando praticado corretamente, é um hobby relaxante e fonte de grande prazer. Pelo menos até aquele peixinho baratinho matar um que custou 10 vezes mais!
Neste artigo vamos listar alguns peixes tidos como "encrenqueiros" por muitos aquaristas, mas que podem apenas estar sendo mal compreendidos.
Veremos que em alguns casos, a solução para o "brigão" é mais simples do que você imagina!
Então, sem mais delongas, eis alguns exemplos:
Barbo Sumatra (Puntius tetrazona)
Favorito de muitos aquaristas, peixe de belas cores, resistente, muito ativo e fácil de criar, porém, também é motivo de várias reclamações.
Este peixe tem o hábito de mordiscar as barbatanas dos outros habitantes do aquário, algumas vezes até a carne, que muitas vezes causa a morte do animal agredido.
Entretanto, isso só acontece se você não dá ao barbo sumatra o que ele quer: companhia!
O barbo sumatra é um peixe de cardume, eles passam o dia todo correndo atrás uns dos outros, dando pequenas mordiscadas de modo a estabelecer uma hierarquia entre eles.
Nenhum dano é causado porque as agressões são distribuídas por todos os indivíduos do cardume e nenhum peixe sofre danos sérios ou fatais.
Porém, se você mantém cinco ou menos deles, eles podem começar a atacar as outras espécies do aquário sendo que grupos de três ou dois animais são, geralmente, problemáticos. Em grupos muito pequenos, um dos peixes acaba sendo mais forte que os outros, mordendo-os até a morte destes.
Quando isto acontece, o sobrevivente acaba por atacar os demais peixes do aquário e é aí que muitos aquaristas pecam, seja por removerem o agressor, deixando um grupo ainda menor no aquário, o que levará a uma repetição do ciclo, desta vez com o peixe mais forte que sobrou, ou removendo o peixe que apanhou, levando o agressor a mudar de alvo.
A melhor solução para acabar com a agressividade dos barbos sumatra é, acredite, colocar mais deles! Tenha pelo menos seis, se o tamanho do seu aquário permitir, ou até 10, 15, 20! Quanto mais deles você colocar (sempre observando a lotação do aquário), melhor eles vão se comportar! Além de gerar um efeito visual muito bonito, devido as cores deste peixe!
Labeo Bicolor (Epalzeorhynchos bicolor)
Peixe muito bonito, que chama a atenção de todos devido a suas cores fortes e o formato do seu corpo, com uma barbata dorsal que lembra a de um tubarão.
Também é útil para evitar que restos de ração se acumulem do fundo do aquário ou em locais muitas vezes ignorados pelos peixes de superfície.
Acontece que o labeo bicolor vez ou outra é tido como "encrenqueiro" e até mesmo proibido para aquários comunitários, o que não é verdade, desde que você atenda suas exigências.
A primeira delas é ter apenas um, e evitar peixes de formato semelhante tais como outras espécies de labeo, bótias, comedor de algas siamês, etc. São raros os casos de labeos que aceitam outros peixes assim e se você é principiante ou nunca teve um desses, é melhor evitar.
Outra exigência é que o aquário seja grande, pois são peixes territoriais (não confundir com agressivos) e que podem chegar a 15cm de comprimento, o que pode representar um problema em aquários pequenos, aonde os outros peixes não terão para onde fugir.
Betta (Betta splendens)
Qual aquarista nunca teve um betta? Ou mesmo quem não é aquarista, mas já ganhou um de presente?
Peixe de cores vibrantes, que consegue viver em aquários sem nenhum tipo de equipamento devido à sua grande resistência e capacidade de respirar o ar atmosférico assim como os animais terrestres, graças a um orgão chamado labirinto.
Esse peixe muitas vezes é tido como "assassino", "peixe de briga", "peixe que tem que viver sozinho" e tantos outros rótulos, que acabam impedindo o aquarista de saber das reais características dessa espécie.
Em primeiro lugar, dificilmente os bettas convivem pacificamente com outros de sua espécie ou peixes com formato e comportamento similar, tais como colisas e tricogásters. As fêmeas são mais fáceis de se misturar, mas podem haver casos de fêmeas excessivamente dominantes, portanto, fique de olho caso decida ter várias delas no mesmo aquário.
Nem mesmo indivíduos de sexos diferentes se dão bem, uma vez que os machos podem perseguir as fêmeas até matá-las por estresse!
Mas e quanto a misturar o betta com outras espécies?
Em geral, bettas são agressivos com outros bettas, mas é preciso alguns cuidados.
Suas barbatanas grandes e seus movimentos lentos, são muito tentadores para alguns peixes que gostam de beliscar, como barbos e tetras.
Por outro lado, peixes que também possuem barbatanas grandes e movimentos lentos, como o guppy ou o kinguio, podem se tornar o alvo do betta.
Acará do Congo (Archocentrus nigrofasciatus)
Você pode econtrar esse peixe com a coloração da foto acima ou na variedade branca.
Nos dois casos, é um peixe resistente, fácil de cuidar e divertido de observar.
Reproduz com facilidade no aquário, e um casal cuidando da prole pode ser uma das mais belas cenas de se ver!
Entretanto, este mesmo acontecimento pode se tornar um grande problema! Apesar de ser até bem pacífico para um ciclídeo, as coisas mudam drasticamente quando o casal dá cria, pois defendem ferozmente a prole e como já dissemos anteriormente que este peixe reproduz com facilidade...
Papai e mamãe vão afastar qualquer um que se aproximar de seu ninho (um buraco cavado com a boca em algum canto do aquário) e se o aquário for muito pequeno, os outros peixes podem acabar apanhando demais por não terem para onde fugir.
Esta espécie pode atingir 15cm, portanto, se for manter um casal, deixe-os sozinhos ou tenha um aquário bem grande, de preferência acima de 200 litros.
Tricogáster azul (Trichogaster trichopterus)
Peixe muito popular, da mesma família do betta e tão resistente quanto. Também respira o ar atmosférico, o que o torna capaz de viver em águas com pouco oxigênio disponível.
O tricogáster azul muitas vezes é o protagonista de diversos relatos de agressão no aquário, por serem peixes territoriais.
Eles gostam de tomar para si uma parte do aquário, geralmente perto da superfície, no meio das plantas mais altas, se houver, e defendem esse lugar com vigor.
Geralmente eles atacam somente outros da mesma espécie, então manter apenas um não costuma ser um problema.
As coisas mudam quando o aquarista quer ter vários, pois eles enxergam uns aos outros como concorrentes pelos territórios, parceiros ou possíveis parceiros de reprodução.
Lembra que eu disse que ele é da mesma família do betta? Pois as brigas podem ser igualmente violentas. Em aquários grandes isso não costuma ser um problema, pois há espaço para todos e os mais fracos podem se esconder dos mais fortes.
Entretanto, o tricogaster azul pode chegar a 15cm então, ter vários vai exigir um aquário realmente grande, com 200 litros ou mais, dependendo da quantidade de peixes que vai ser introduzida.
Lembra da técnica de adicionar vários barbos sumatras para fazê-los se comportar? Pois ela pode funcionar com o tricogáster azul também, e isso explica porque nas baterias das lojas vemos muitos deles em aquários pequenos sem sinais de agressividade. Isso acontece porque não há um peixe que consiga ser mais forte que todos os outros e portanto, a convivência acaba sendo pacífica.
Mas tenha em mente que essa não é a maneira correta de manter esta espécie saudável, e cá pra nós, quem é que vai querer encher um aquário só com tricogásters? heheheh
Por último, vale lembrar que, apesar do nome, este peixe é encontrado também na cor amarela.
Comedor de algas chinês (Gyrinocheilus aymonieri)
Alguns consideram esse peixe uma fraude, pois não vem da China e não come tanto assim as algas.
Pior, algumas vezes se alimentam do muco de outros peixes, machucando ou mesmo matando-os. Alguns aquaristas acabam tendo o CAC como o único sobrevivente do aquário sem saber o porquê.
Afinal, quem suspeitaria de um humilde comedor de algas?
Pode chegar a mais de 20cm de comprimento e também é econtrado na variedade dourada.
Botiá Gambá (Yasuhikotakia morleti)
Um peixe de forma e cores bem interessantes, que atinge cerca de 10cm de comprimento.
Infelizmente, frequentemente se torna beliscadora, embora muitos aquaristas não tenham problemas com esta espécie, quando bem alimentada.
Outros relatam ser nada menos que uma mordiscadora insaciável. Se esse for o seu caso, tente alimentá-la bem com pastilhas que afundam. Se não funcionar, é melhor se desfazer do animal, seja trocando em alguma loja ou doando para outro aquarista que queira manter esta espécie.
Acará Bandeira (Pterophyllum scalare)
Um peixe que chama a atenção de todos devido a sua forma triangular e cores variadas, fáceis de cuidar e que gostam de viver em cardume. Evite misturá-los com peixes que gostam de morder barbatanas como os barbos.
Entretanto, são ciclídeos, e todo ciclídeo é territorial (alguns mais, outros menos) e isso pode se tornar um problema.
Geralmente, eles estabelecem uma hierarquia entre si através de "bicadas" o que não costuma causar problemas.
Mas é nos casais que se esconde o perigo. Uma vez que escolhem um parceiro, eles se tornam muito agressivos com relação aos companheiros o que pode fazer com que os mais fracos e submissos parem de comer e fiquem o tempo todo escondidos.
Se isso acontecer, o melhor é separar o casal em um outro aquário. Eles certamente vão desovar e vê-los cuidando das crias é uma cena maravilhosa!
Alguns aquaristas também relatam que os exemplares grandes podem comer peixes pequenos como neons e guppies.
Conclusão
Então, esses são alguns casos mais comuns e vale a pena lembrar que sempre haverão exceções! A natureza não é uma ciência exata.
A prevenção sempre é o melhor remédio, por isso pesquise sempre antes de comprar qualquer peixe. Procure saber das condições ideais de cada espécie, seu tamanho adulto, comportamento, alimentação, compatibilidade com outros peixes, etc.
Agindo assim, você terá um aquário bonito e com peixes saudáveis por muitos anos!
Por enquanto é só, pessoal! Espero que tenham gostado dessa dica e que ela seja útil para vocês!
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Obrigado e até o próximo post!
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